quarta-feira, 27 de maio de 2015

Terminei de ler a Autobiografia!

Praticamente metade da minha vida foi vivida nessa perversa e incessante adoração.

Se você ainda pretende ler, não leia os meus comentários, vai estragar sua leitura.

Meu livro é a primeira edição inglesa (lembre-se que já está na terceira edição e inclusive na americana algumas partes foram editadas). Confesso que esse foi o livro em inglês mais difícil que eu já li, mesmo tendo inglês avançado, Morrissey usa em suas letras um inglês formal, acadêmico, e no livro não seria diferente, por isso demorei um pouco mais para ler do que leria qualquer outro livro. Estudei como se fosse para um vestibular, com o google tradutor aberto e dicionário inglês/português ao lado, muitas anotações e clipes, mesmo assim foram muitas as palavras que eu não encontrei o significado, mas dá para ler tranquilo, se você tem um bom nível de inglês.

Muitas histórias que ele conta eu já havia lido em outros livros e entrevistas, mas você já parou para pensar em como é incrível ter um livro escrito por ele próprio? Nem em um milhão de anos eu achei que isso iria acontecer!

Meu livro meio detonado agora
Eu me interesso muito sobre a vida pessoal dele, sei que a maioria não se importa ou diz não se importar, mas Morrissey foi desde a adolescência uma influência muito forte na minha vida e eu tenho o costume de me interessar pela pessoa por trás da obra quando minha admiração é intensa e profunda. Eu sou aquele tipo de fã obcecada que precisa saber tudo, ter tudo (nem sempre é possível, mas coleções sempre me fascinaram), e apesar de algumas críticas, não acho que seja algo doentio, pois não faz mal à ninguém, é um hobby que me preenche e me traz muita satisfação. Voltando à vida pessoal do Moz, fora a vida escolar, que já é bem sabido, a vida doméstica dele  também parece ter deixado muitas cicatrizes. Eu sempre quis saber mais sobre seu pai, mas pouco é falado. Tem uma foto muito bonita dele com discos do Elvis e várias citações de críticas que seu pai fazia e isso o deixava muito chateado. No meio dos anos 70 seus pais se divorciaram e seu pai foi embora dois dias antes do Natal, deixando a impressão dele ter uma outra vida em outro lugar, talvez uma outra família. Depois seu nome não é mais tocado e não sei se ele é vivo ainda e se mantém contato.

Ele não esclarece praticamente nada sobre as letras, mas isso a nossa idolatrada Mozipédia já tinha feito pela gente. Fala que a ideia de “Still Ill” veio de uma conversa com a Linder (já foi bem legal saber disso, já que essa música é um marco na vida de muita gente - na minha com certeza).  

Annalisa Jablonska, quem se lembra? Ela fez backing vocals em “Pretty girls make graves” e em “Suffer little children” e nada se sabe sobre ela além de que foi Moz quem a levou ao estúdio. No livro ele diz que seguiu uma tal Anna de perto nos anos 80 e a sugeriu que morassem juntos e ela recusou (porque essas coisas não acontecem com as pessoas certas?). Com certeza se trata da própria, inclusive quem leu as cartas trocadas com seu penpal da época sabe que ele namorava uma Annalisa e que os dois eram bissexuais (apesar dele afirmar até hoje que essas cartas são falsas, é muita coincidência). Um mistério que foi desvendado.

Jake Walters. Os fanáticos já sabiam há anos desse romance. Uma pena que pouco se fala dele no livro, mas se fala com muito carinho, e os dois parecem ser amigos até hoje ( já vi fotos recentes deles juntos). Fora o Jake, os outros supostos relacionamentos são apenas hipóteses, porque Morrissey é extremamente misterioso e engana-se quem pensa que ele abriu o livro de sua vida.

Tina Dehghani, uma das 4 únicas pessoas à quem ele dedica o livro, foi com quem ele passou os seus 40’s. Não dá pra saber se foram namorados ou apenas amigos íntimos. Foi a única vez na vida que ele pensou em gerar um filho, até aí não quer dizer nada... Claro que eu pesquisei exaustivamente até achar uma foto da moça, e parece que essa única foto, pelo que me lembro de ter visto, é uma cena de “The importance of being Morrissey”. E depois tem um tal de Sr. Gelato, um italiano que o acompanhou muito na sua jornada em Roma. Esse ainda estou pesquisando, mas realmente ele não dá pistas de ter namorado nenhuma dessas pessoas, é uma dedução... tendo escutado “Dear God please help me” você sabe que alguma coisa aconteceu em Roma.

Caso Mike Joyce – bem cansativo. 50 páginas de reclamações, que eu entendo perfeitamente, Moz foi injustiçado, uma tremenda sacanagem!!! Mas acho que tinham coisas mais interessantes para contar do que desperdiçar 50 páginas com algo que já sabíamos o que tinha acontecido. No entanto, não vou hostilizar o Joyce, ele era um excelente baterista e seu deslize de caráter não tira o mérito do seu trabalho. Dentro das devidas proporções, os 4 integrantes eram talentosos e criativos e fizeram o som dessa banda que mudou nossas vidas.

Fiquei triste de ler sobre a gravação do primeiro álbum. Já sabia que tinha sido insatisfatória, por terem mudado de produtor. Mas a versão final Morrissey classificou como “mais crime que lamentação”.  Poxa, eu acho The Smiths sublime. Depois de Meat is Murder é meu favorito.
Ele fala sobre ter ataques de pânico e o uso de anti-depressivos, que começaram na época dos Smiths- justo numa época onde ele alcançou seu maior sonho e estava realizado, embora sempre achando que o que conseguia não era o suficiente na gravadora.

Legal ler sobre as gravações dos álbums. Não gosta de Kill Uncle, uma frustração. Relata a época a partir de You are the Quarry com muita satisfação e alegria com o amor recebido pela audiência (lembre-se de que ele odeia a palavra fã).

Um dos assuntos mais destacados são seus encontros com ídolos e suas impressões. Muitos foram decepcionantes, e você vê como isso é importante para ele até hoje, depois de velho e famoso, essa admiração por outros artistas e colecionar itens relacionados. Eu achei o máximo saber que mesmo com mais de 50 anos ele ainda pega o carro e vai assistir shows em outras cidades – tudo isso é tão minha cara!!! Já tive o prazer de conhecer vários artistas de quem sou fã e apenas com um deles me decepcionei porque ele não foi nem um pouco simpático, (apesar de ter concordado em tirar uma foto comigo), mas mesmo assim não deixei de gostar e continuar comprando seus discos. Enfim, eu vejo muito de mim no Morrissey e isso me faz respeitá-lo e amá-lo cada dia mais.

Ele tem um gênio difícil, é teimoso, às vezes contraditório, rancoroso – e quem de nós não tem milhões de defeitos? Ele é um ser humano como qualquer outro, só que incrivelmente talentoso e profundo em tudo que diz, que toca nossas almas como ninguém mais o faz, e por isso ele tem o direito de ser quem é, não precisa se mudar ou fingir ser algo que não é para se encaixar num papel exigido pela sociedade para agradar aos outros. Morrissey é extremamente verdadeiro e sincero, o que o torna o maior inglês vivo, o maior poeta que a Inglaterra já teve depois de Oscar Wilde, o ser humano mais maravilhoso da Terra - todas essas citações de revistas internacionais-  ou simplesmente Morrissey, o nosso herói. 

Vale a pena ler o livro, já que a versão em português virou pó.